Skip to main content

Quem disse que não é indicado psicanálise para pessoas com mais de 60 anos? Foi Freud? Sim, foi Freud, em 1904, no texto Sobre a psicoterapia. No entanto, passaram-se mais de 118 anos e os tempos mudaram. Naquela época, a expectativa de vida girava em torno de 50–55 anos, hoje, segundo o IBGE, atinge 77 anos e o instituto prevê que, em 2050, pode chegar a 81 anos. Comprovadamente, a medicina evoluiu muito, contando com um exército de profissionais capacitados para atender à demanda dessas pessoas, que deverão representar cerca de 2 bilhões de cidadãos em menos de 30 anos, no mundo.

Com o passar do tempo, o corpo envelhece, mas a oferta medicamentosa e os profissionais especializados nessa faixa etária crescem na mesma proporção da idade. A saúde mental deve ter um olhar diferenciado, de modo que identifique certas limitações físicas. Contudo, podem ser descobertas outras habilidades que, por ausência de tempo ou oportunidade, ficaram presas no esquecimento e no passado. A capacidade criativa é uma delas e, muitas vezes, falta somente um olhar externo e uma palavra alheia para ser desenterrada e colocada em prática.

Um legado freudiano acredita que a libido não tem idade. O próprio Freud produziu cientificamente até seus 83 anos, com muita energia e lucidez. Com isso, acreditamos que um psicanalista pode auxiliar um idoso no resgate de suas capacidades e desejos, possibilitando a construção de novos projetos, renarcisisando seu ser e recuperando a criança adormecida que ainda pulsa por se expressar. Um tratamento psicanalítico, após os 60 anos, pode restaurar a autoconfiança, a autoestima e a integridade individual.

Muitos estudos científicos, voltados para a quarta etapa da vida, citam trabalhos psicanalíticos que atingiram resultados positivos e gratificantes. Winnicott, por exemplo, foi um psicanalista que mostrava uma empatia diferenciada com cada paciente, adaptando sua técnica de acordo com a necessidade do sujeito, sem anestesiar suas ambições.

Após os 60 anos é o momento do “re”: reelaboração dos lutos, ressignificação da história, rememoração dos êxitos vividos, reconstrução de objetivos, reinvestimento em si e na realidade, redirecionamento de seus valores, reconhecimento dos prazeres a sua volta, restabelecimento do equilíbrio psíquico, reintegração ao ambiente social, recuperação da autoimagem e redistribuição de sua libido.

Envelhecer sim, todos vamos, mas é possível que seja livre de preconceitos, com energia, motivação e dignidade.

Texto: Rosa Beatriz Santoro Squeff – Psicanalista e Presidente da Associação Gaepsi.

Leave a Reply